Translate

domingo, fevereiro 16, 2014

O impulso para voar



Um pequeno fracasso, às vezes, pode ser o impulso para você voar.
 

Paulo Gaudêncio escreveu um excelente livro chamado: Minhas razões, Tuas razões. Ele trata basicamente de relacionamento homem, mulher, de casais. Na essência ele expõe o motivo básico da divergência de opinião e dos problemas de relacionamento no casamento, a necessidade de ter razão sempre.
Se extrapolarmos este conceito para vida cotidiana, nas mais diversas formas de relacionamentos diários, poderemos verificar que esta necessidade de ter razão, sempre, é mais comum do que se possa imaginar.
Isso acontece nas empresas, nos relacionamentos chefe e subordinado, namorada e namorado, marido e mulher, pai e filho, mãe e filha e assim sucessivamente. Na essência todos nós temos razões sempre e em todas as nossas questões. A dificuldade nasce quando nos deparamos com o outro. Este outro, também dono de suas razões, pode dificultar a aceitação das nossas razões e nós, que não somos flor que se cheire, também dificultaremos a aceitação das razões alheias.
É muito comum encontrarmos pessoas que sempre e sucessivamente necessitam ter razão. Quando isto não acontece, cria-se um problema muito sério e esta pessoa tenderá, em curto prazo, guardar aquela informação negativa, até que tenha a possibilidade de confirmá-la ou demonstrar que tinha razão.
O grande desafio de quem tem esta necessidade é tomar contato com esta atitude, pois, certamente, são atos inconscientes, tão arraigados na mente, que muito dificilmente a pessoa reconhecerá a necessidade de mudança.
A necessidade de ter razão é aliada à necessidade de controle. Andam de mãos atadas e precisam ser trabalhadas de modo a garantir uma melhora na qualidade de vida de quem a sente. A necessidade de controle torna a pessoa escrava de seus hábitos. Nada passa, sem que ele ou ela, de alguma maneira precise saber, mesmo quando já não lhe diz respeito. Gera um sofrimento imperceptível que, com o passar dos anos, transforma-se num peso quase que insuportável e pode transformar a pessoa, na fase mais idosa de sua vida, mais ranzinza tornando difícil a convivência consigo e com parentes e amigos mais próximos.
De mãos dadas com a necessidade de ter razão sempre, encontramos aquele que sente a necessidade profunda de não ter razão nunca. Isso mesmo, não ter razão nunca. Esse é processo curioso que confirma o ditado popular: para toda a panela existe uma tampa. Este é o caso e normalmente os dois se encontram; aquele que necessita ter razão sempre com aquele que não que não quer ter razão nunca.
É o encontro do algoz com a vítima e ambos se complementam. Vivem uma vida inteira de relacionamento, nutrindo-se no aspecto negativo da existência e, ao final dela, muitas vezes, definem indevidamente este relacionamento como karma.
A vida para ambos os tipos pode se tornar insuportável e sem nenhuma qualidade, na medida em que toda a potencialidade de um estará submissa à potencialidade do outro. Neste momento o algoz se transforma em vítima e vice-versa. Aquele que quer ter razão e aquele que não quer se encontram e criam um círculo vicioso incontestável que poderá resultar numa existência infeliz e sem perspectivas. É literalmente um jogo, conforme descreve Eric Berne.
Aqui há um desafio duplo, porém com o mesmo investimento de energia. Há uma primeira necessidade: tomar conhecimento do fato das necessidades, ter ou não ter razão. Esta é, verdadeiramente, a primeira necessidade. É preciso considerar, como dito no início, todos têm sempre razão, todos. Abrir mão disto é deixar de querer compreender a existência, é perder a oportunidade de dar um mergulho profundo na busca do conhecimento pessoal.
Vale investigar as causas da omissão em se posicionar e também as causas daquele que é zeloso demais em seus posicionamentos. Vale a pena buscar o ponto de equilíbrio entre estes dois tipos de comportamentos e encontrar força para, de um lado, calar quando o impulso de ter razão se aproximar e, por outro lado, falar, quando o impulso de se omitir se fizer presente.
Deixe fluir a vida, diante das tuas razões. Liberte-se desta necessidade e perceberá que há muito aprendizado nas relações humanas quando se permite que sua alma dialogue com a alma do outro. O encontro com o outro, não importa quem ele seja, pode ser um encontro fora do tempo convencional, pode ser uma oportunidade de crescimento e de ampliações de horizontes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja gigante, comente:..