O Texto abaixo foi extraído na íntegra do site: www.primeiroprograma.com.br
Caro leitor fiquei impressionado, sobremaneira, com o texto de Alexandre Pelegi, lido hoje na Transamérica SP. Alexandre, de maneira pontual, discorre sobre o Caso de Isabella, da atuação da mídia e de populares no caso. Não ousaria alterar em nada o texto. Ele reflete o meu pensamento e incômodo com toda esta situação.
Vale a pena conferir.
Grande abraço,
Paulo Lima
Cinderela e Branca de Neve
"O desenho “A Gata Borralheira”, lançado pela Disney em 1950, é uma obra-prima do cinema de animação. Cinderela, a heroína, encarna a inocência, em contraste com a maldade da madrasta e suas filhas invejosas. Não à toa, o desenho carrega nas tintas: Cinderela é bela, angelical, boazinha. A família que a destrata e tortura é vivida por personagens de fala esganiçada e corpos obesos. É a luta do bem contra o mal, que povoa roteiros de dramas e tragédias desde que o teatro é teatro.
Assistindo à excessiva exploração da mídia sobre o caso Isabela entendemos como o desenho permanece atual. O imaginário escancarado não é coincidência: madrastas são más, mães são boas e protetoras. Logo, o culpado surge facilmente identificado, só restando à polícia cumprir o ritual terreno de juntar provas e legalizar a sentença.
Pena que a realidade guarde distâncias imensas dos contos de fadas. A morte trágica da menina Isabela ainda ressoará por muitos anos em busca de respostas plausíveis. Isso porque, por mais que o mundo nos mostre exemplos seguidos de crueldades com crianças, relutamos em admitir que podemos ser monstruosos.
Ao invés de mirar nos acusados, passei boa parte do tempo perscrutando não só a cobertura da mídia, como também a ação de populares. Qual o papel dos que destilam seu ódio justiceiro acima e além das leis e do respeito? A polícia e a promotoria, que passaram a maior parte do tempo disputando o espaço que caberia, na fábula, ao príncipe encantado, reforçaram a sanha justiceira de gente que não tem mais o que fazer na vida. A imprensa aproveitou o circo para cravar seguidos recordes de audiência.
Assistindo à excessiva exploração da mídia sobre o caso Isabela entendemos como o desenho permanece atual. O imaginário escancarado não é coincidência: madrastas são más, mães são boas e protetoras. Logo, o culpado surge facilmente identificado, só restando à polícia cumprir o ritual terreno de juntar provas e legalizar a sentença.
Pena que a realidade guarde distâncias imensas dos contos de fadas. A morte trágica da menina Isabela ainda ressoará por muitos anos em busca de respostas plausíveis. Isso porque, por mais que o mundo nos mostre exemplos seguidos de crueldades com crianças, relutamos em admitir que podemos ser monstruosos.
Ao invés de mirar nos acusados, passei boa parte do tempo perscrutando não só a cobertura da mídia, como também a ação de populares. Qual o papel dos que destilam seu ódio justiceiro acima e além das leis e do respeito? A polícia e a promotoria, que passaram a maior parte do tempo disputando o espaço que caberia, na fábula, ao príncipe encantado, reforçaram a sanha justiceira de gente que não tem mais o que fazer na vida. A imprensa aproveitou o circo para cravar seguidos recordes de audiência.
No fim de tudo, a certeza: no país onde liberdade tem preço (facilmente calculado pelo número e competência dos advogados de defesa), crimes como esse acontecerão sem punição factível. Enquanto isso, outra obra-prima da Disney explica o que vivemos - como a heroína Branca de Neve, comemos maçãs envenenadas que brotam da sociedade que cultivamos. E como no desenho, dormimos à espera do príncipe encantado e seu beijo providencial. Enquanto isso, o mundo gira e os crimes acontecem. "
Esse texto é muito inteligente, gostei mesmo!
ResponderExcluirbeijos
www.ensaiosamadores.blospot.com
como dizia Camões:
ResponderExcluirOs bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.
Uma observação, a mídia que hoje explora cansativamente e sem pudor nenhum, com o intuito de lucrar audiência é a mesma que faz tudo cair no esquecimento depois, não é mesmo? Revoltante!
belo post!
ResponderExcluirum beijo querido e obrigada pelo correio que chegou hj! Mandei um recadinho no seu e-mail! ;)
Tita: agradeço tua primeira visita e agradeço suas palavras.
ResponderExcluirMutante: que bela referência e que belo poema, sempre atual. Concordo. A mídia, como quarto poder, escolhe o momento que mais lhe apetece para elevar e/ou execrar alguém. grande abraço. Paulo