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quinta-feira, março 08, 2007

SURDO GRITO

(o grito-fragmento de Edvard Munch)
Há um surdo grito no canto do mundo. É um grito de desabafo, de dor, grito de desamparada paixão.É assim, algo inconsequente, mais demente que inocente. É como força, é como vida, talvez, parecido com a morte.
Há um surdo grito.
É no calar da tarde que ele se manifesta. É como fonte que não se esgota. É o fim que não tem começo, é o amor, talvez como um princípio do fim. E por falar em fim, talvez se ouça que o grito, abafado no peito, é de rouquidão, de devassidão, de incompreensão.
Já não há mais grito, pois calou-se a voz do filho do homem. Calou-se também os desejos contidos na imensidão do peito. Não mais restou sequer a lágrima da existência. Que busca insana é essa? Que imperfeição quer se deixar perfeita?
Sim, palavras esquizofrênicas, saídas de um cérebro semelhante. Que faço eu? Deixo o surdo grito contido no peito, ou valho-me da pena para amansar os anseios e os receios que me tomam a alma?
O que fazer se a impefeição me toma a alma?
Nasci neste mundo. Ao ser parido a luz se fez presente para me receber. Ora, sou digno de respirar o ar que respiro? Sou digno de sentir o toque que me toca? Quantos quiseram esta chance?
E eu? Bem, eu estou aqui, inquieto, sôfrego, inconformado, rebelde e contido por um corpo que me aprisiona a alma.
É certo a vida é um passo a mais na busca da eternidade. E como fica o tempo para aqueles que não nasceram? E, para aqueles, que antes do tempo pereceram, há alguma esperança? Não sei! Mas, às vezes acho que a vida é um caminho sem volta. Assim como sem volta são os caminhos destinados ao amor.
Não bastará ao meu corpo apaixonar-se uma única vez. Como ficariam as plantas, as montanhas, os pássaros, a Terra e todo o Universo se assim eu o fizesse? Não, definitivamente não posso.
Sou mais o sol nascente que o poente, no entanto, muito sereno não deixo de amá-lo. Ele me possibilita perceber que se aproxima o dia seguinte, novo e cheio de possibilidades. Sinto-me como parte única do Cosmo. É como se se o Universo transitasse dentro do meu corpo e forçasse a expansão da minha alma.
Em cada pássaro, em cada árvore, flor, gente, estrela ou Planeta. Em cada ser vivo, ou não, lá sou eu. Algo único, indivisivo. Então amigo ou amiga, sou homem e mulher, sou eu e você, como única fonte de energia. Sou amor, sou vida, sou morte, aquilo que transforma e aquilo que não.
É nesse surdo grito que meu corpo se manifesta como um caminho para a continuidade da minha existência. É com ele que posso me aproximar de meus semelhantes e é com ele que exteriorizo todo o meu amor e tudo aquilo que me faz viver.
Há um surdo grito querendo eclodir em minha alma. Esse grito me diz que sou o todo e único, que posso me reconhecer em todas as pessoas, pois são espelho e reflexo de meus defeitos e minhas virtudes.
Assim é... como um surdo grito
(fragmento de meu segundo romance: de volta para a vida)

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